Acórdão nº 00875/05 de Tribunal Central Administrativo Sul, 24 de Janeiro de 2006 (caso NULL)

Magistrado ResponsávelJosé Correia
Data da Resolução24 de Janeiro de 2006
EmissorTribunal Central Administrativo Sul

ACORDA-SE, EM CONFERÊNCIA, NA SECÇÃO TRIBUTÁRIA DO TCAS:1.- Não se conformando com a sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco que julgou improcedentes os embargos de terceiro por si deduzidos contra a penhora realizada nos autos de execução fiscal em que é executado João Joaquim Silva César veio a embargante M...

dela interpor recurso para o TCAS concluindo assim as suas alegações: 1. ESTÁ EM CAUSA NOS PRESENTES AUTOS UMA EXECUÇÃO POR DÍVIDAS DA RESPONSABILIDADE DO FILHO DA RECORRENTE.

TENDO SIDO, NO DECURSO DA MESMA, PENHORADO 1/6 DO DIREITO E ACÇÃO DA HERANÇA DO EXECUTADO ABERTA POR ÓBITO DO PAI DESTE E MARIDO DA RECORRENTE, PESSOA DE IDADE AVANÇADA QUE COMO SE NÃO BASTASSE ESTAR LANÇADA À SORTE DOS IDOSOS DESTE PAÍS, AINDA ESTÁ NA EMINÊNCIA DE IR VIVER PARA DEBAIXO DA PONTE POR FACTOS QUE NÃO SÃO DA SUA RESPONSABILIDADE.

  1. ATENDENDO AO MONTANTE DAS DÍVIDAS DO EXECUTADO E À ESCASSEZ DE BENS QUE CONSTITUEM A HERANÇA, A PENHORA, OBVIA E NECESSARIAMENTE, ATINGE O PRÉDIO URBANO E O RESPECTIVO RECHEIO, PONDO EM CAUSA A PERMANÊNCIA DA RECORRENTE NA SUA RESIDÊNCIA.

  2. É QUE O REFERIDO PRÉDIO URBANO É, NADA MAIS NADA MENOS, DO QUE A CASA DE MORADA DE FAMÍLIA DA RECORRENTE, USANDO ESTA O RESPECTIVO RECHEIO PELO QUE INVOCOU A MESMA OS RESPECTIVOS DIREITOS DE HABITAÇÃO E USO, VENDO INDEFERIDA A SUA PRETENSÃO-IMPROCEDIMENTO DOS EMBARGOS - EM SUMA PORQUE ".......

    SEMPRE QUE A PENHORA, OU QUALQUER OUTRA DILIGÊNCIA ORDENADA JUDICIALMENTE, DIGA RESPEITO APENAS A UMA MERA QUOTA DE HERDEIRO EXECUTADO E NÃO AOS CONCRETOS BENS QUE CONSTITUEM A HERANÇA INDIVISA, JAMAIS SE OFENDERÁ A POSSE EFECTIVA QUE ESTEJA A SER EXERCIDA SOBRE OS MESMOS BENS....." TUDO COMO MELHOR CONSTA DA SENTENÇA RECORRIDA.

  3. DISCORDA A RECORRENTE PORQUE NOS TERMOS DO ARTº 1251° DO C.C.

    "POSSE É O PODER QUE SE MANIFESTA QUANDO ALGUÉM ACTUA POR FORMA CORRESPONDENTE AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE PROPRIEDADE OU .......

    DE OUTRO DIREITO REAL" ........

  4. NO CASO CONCRETO TRATA-SE, JUSTAMENTE, "DE OUTRO DIREITO REAL" - O DIREITO DE HABITAÇÃO E USO AMBOS CONSAGRADOS NO ARTº 1484° DO C.P.C. E QUE SÃO ATINGIDOS PELA PENHORA, SOBRETUDO SE TIVERMOS EM CONTA QUE A RECORRENTE VIVE DUMA MAGRA REFORMA E NÃO TEM POSSIBILIDADES DE, NO ACTO DA VENDA EXERCER O SEU DIREITO DE PREFERÊNCIA, TAL COMO NÃO AS TEM PARA QUAISQUER TORNAS PELO QUE O RESULTADO SERÁ IR VIVER PARA DEBAIXO DA PONTE.

  5. ORA, TAIS DIREITOS REAIS DE GOZO SÃO SUSCEPTÍVEIS DE POSSE E JÁ SE ENCONTRAVAM NA ESFERA JURÍDICA DA RECORRENTE NA DATA DA DILIGÊNCIA, MESMO ANTES DE O EXECUTADO TER QUAISQUER DIREITOS NA HERANÇA JÁ JAZIAM NA ESFERA JURÍDICA DA RECORRENTE.

  6. COMO É SABIDO ESTES DIREITOS SÃO DIREITOS INTUITOS PERSONAE , ABSOLUTAMENTE INTRANSMISSÍVEIS E ESTANDO COMO ESTÁ EXCLUÍDA A SUA INTRANSMISSIBILIDADE, SÃO DESDE LOGO, IMPENHORÁVEIS - ARTºS 1488º DO C.C. E 822º DO C.P.C /AC. RL. DE 22.06.89 JUR. 1989, 3º-150 / PROF. MOTA PINTO, DIREITOS REAIS, 1970/71, 106 E 149 E PROF. ORLANDO DE CARVALHO..

  7. PELO QUE A PENHORA DO DIREITO QUE O EXECUTADO, TEM NA HERANÇA DO SEU PAI, OFENDEU A POSSE DA RECORRENTE SOBRE OS SEUS DIREITOS REAIS DE GOZO - USO E HABITAÇÃO.

  8. ASSIM NÃO TENDO SIDO DECIDIDO E ESTANDO COMO ESTAMOS, PERANTE UMA PENHORA ILEGAL, UMA ILEGALIDADE OBJECTIVA POR VIOLAÇÃO DUMA IMPENHORABILIDADE RESULTANTE DUMA INALIENABILIDADE, O TRIBUNAL RECORRIDO VIOLOU, FRONTALMENTE, OS AR'PS 1488° DO C.C. E 822° DO C.P.C.

    Termos em que entende que deve proceder o Recurso, declarando-se ilegal a Penhora, revogando-se, assim, a Douta Sentença Recorrida, como é de Justiça.

    Contra-alegou a FªPª formulando as seguintes conclusões: I- O recurso em apreciação incide sobre sentença, produzida nos autos de Embargos de Terceiro que correm termos, sob o n.° 1/2002 P-ET, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco; julgando os mesmos totalmente improcedentes, por não provados.

    II- Os Embargos de Terceiro foram deduzidos pela agora Recorrente, contra a penhora efectuada sobre o direito e acção a um sexto da herança indivisa aberta por óbito de João Augusto César - marido da recorrente -, que constitui o quinhão hereditário de João Joaquim da Silva César, filho da Recorrente.

    III- A herança indivisa era constituída por bens móveis, um veículo automóvel e um prédio urbano, melhor descritos no parágrafo 2) dos factos considerados provados na douta sentença recorrida .

    IV- A Recorrente alega que a supra mencionada penhora atinge, "óbvia e necessariamente", o prédio urbano onde a Recorrente tem a sua casa de morada de família e o respectivo recheio, colocando em causa a permanência da Recorrente na sua residência; alegando, ainda, que a penhora ofende a posse da Recorrente sobre os seus direitos reais de gozo - direitos de uso e habitação - pelo que, esta se encontra ferida de ilegalidade objectiva por violação duma impenhorabilidade resultante duma inalienabilidade, com a decorrente violação, pelo Tribunal recorrido, dos artigos 1488° do Código Civil e 822° do Código de Processo Civil.

    V- Salvo o devido respeito, não subscrevemos a tese adoptada pela Recorrente nos articulados apresentados, quer nos Autos de Embargos de Terceiros, quer nas alegações produzidas em sede de recurso.

    VI- Com efeito, o n.° l do artigo 827° do Código de Processo Civil, cuja epígrafe é, "Bens a penhorar na execução contra o herdeiro"; dispõe que, "na execução movida contra o herdeiro só podem penhorar-se os bens que ele tenha recebido do autor da herança".

    VII- Foi o que, no caso vertente, sucedeu - na forma de penhora efectuada sobre o direito e acção a herança indivisa, aberta por óbito do marido da Recorrente (art. 232°, alínea c) do C.P.P.T.).

    VIII- Segundo Pires de Lima e Antunes Varela, "Sobre a herança como tal, dado que é uma universalidade de coisas, direitos e obrigações, não pode ser exercida posse (ver o acórdão do S.TJ., de 24 de Fevereiro de 1976, BMJ, n.° 254, págs. 171 e segs.)(in "Código Civil Anotado, Vol. III, 2a Edição, Coimbra Editora, pág. 3; sublinhado nosso).

    IX- No mesmo sentido decidiu, de forma lapidar, o Acórdão do S.T.A. de 20/11/1996 - Processo 019831, segundo o qual, "Para que os embargos de terceiro possam ter êxito torna-se necessário - para além de outros requisitos (...) que a penhora ofenda a posse.

    A herança é uma universalidade jurídica insusceptível de ser possuída, sendo as coisas integrantes, isoladamente, que constituem o objecto das relações jurídicas e que portanto constituem o objecto da posse.

    O quinhão hereditário sobre a referida herança é, pois insusceptível de posse, pelo que não pode ser ofendida pela penhora.

    Não se verificando ofensa da posse os embargos de terceiro têm de improceder" (negrito nosso).

    X- Nessa medida, não se considera que tenha ocorrido colisão da penhora com a posse ou direitos de gozo da agora Recorrente, pela razão de que os seus direitos não foram objecto de penhora - o que foi penhorado não foi qualquer dos bens do acervo hereditário, nem mesmo uma fracção deles, mas apenas a parte que nestes cabe ao executado, o direito do executado a tal herança, de acordo com o artigo 232° do C.P.P.T.

    XI- Conforme referem Pires de Lima e Antunes Varela (op. Cit, pág. 347), a doutrina costuma recorrer ao conceito de comunhão de mão comum para enquadrar o regime a que a lei subordina o património comum dos cônjuges, o das sociedades não personalizadas e o da herança indivisa, regime este que se caracteriza pelo "facto de o direito dos contitulares não incidir directamente sobre cada um dos elementos (coisa ou crédito) que constituem o património, mas sobre tudo ele concebido como um todo unitário, o que equivale a dizer que "aos membros da comunhão, individualmente considerados, não pertencem direitos específicos sobre cada um dos bens que integram o património global, não lhes sendo lícito, por conseguinte, dispor desses bens, ou onerá-los, no seu todo ou em parte"(cfr. fls. 41 dos autos).

    XII- Assim sendo, e mesmo que a embargante venha referir que o prédio...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT